quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Roberto Leal e os Beatles

É com enorme vergonha que vos confesso que, num blogue com cinco anos de existência e de assuntos tão diversificados como é A Gota de Ran Tan Plan, a entrada até hoje mais visitada (assim me dizem as estatísticas) foi esta que agora aqui reproduzo, escrita há dois anos e meio, na minha inefável rubrica Câmara dos Horrores. Os visitantes vindos do Brasil à procura de Roberto Leal são diários, a culpa não é minha. Vejam a entrada original e os óptimos comentários. Podem ouvir a daninha versão de Roberto Leal aqui (ainda assim — e entre as duas venha o Diabo e escolha —, prefiro esta versão à afadistada e canalha de Carlos Bastos, esta sempre dá para rir, e muito).

Cá vai o que então escrevi:

Câmara dos Horrores #6: Roberto Leal

Eu devia era ter juizinho e ficar muito caladinha da próxima vez que tiver a veleidade de denegredir as produções canoras da S'Dona Simone (está bem, abelha...) nos loucos anos sixtes. Afinal as versões da S'Dona Simone são primorosas (not!) e eu fazia troça sem ponta de razão!

A minha única atenuante é que ainda não conhecia este prodígio de Roberto Leal, tradução (?) livre, mesmo muito livre, do próprio: Recado a John Lennon (Ei Tu) — e nem vos passa pela cabeça a vontade de rir que este Ei Tu me dá...

Como provavelmente terão reconhecido — com alguma sorte e um apurado ouvido musical —, isto é Hey Jude, dos Beatles. Mas não é uma versão qualquer, é uma versão eivada de lusitanidade, em ritmo de vira do Minho e com um cheirinho inconfundível a rancho folclórico: ele há acordeão, ele há adufe, ele há ferrinhos, ele há o que se queira para dar a atmosfera única das festas de Nossa Senhora d'Agonia. E agonia é bem o que se sente a ouvir isto, não obstante o fascínio hipnotizado que nos força a ouvir até ao fim. E o fim vale a pena, porque ainda somos brindados com uma escorregadela para Lucy in the Sky with Diamonds, enquanto o artista geme, desorientado, «não sei onde estás para me dar a mão». Obrigada, Luís!

Deixo-vos com a letra. Se alguém a perceber, importa-se de ma explicar? Já agora, lembrem-me de vos contar, um dia destes, como eu, que nunca fui de pedir autógrafos, acabei há muitos anos (aturdida e derrotada) com um autógrafo de Roberto Leal na mão.


Recado a John Lennon (Ei Tu)
Ei tu
Que eu não pensei
Que estas canções fosse esquecer
Relembro e encontro dentro de mim
Um pouco de ti
De um tempo feliz

Ei tu
Puseste ao chão
A bandeira da minha geração
E lembra meu canto a te chamar
E o mundo a chorar, saudades de ti
Não sei quem foi que te mudou
Não fiques só
Junto aos outros três és bem melhor
Porque insistir em te mudar?
Perdoa a mim, mas tua missão não teve fim

Ei tu
Onde andarás,
Onde estará tua canção?
E então não há um coro a cantar
Só ouço tua voz
Perdida no ar
Ei tu
Puseste ao chão
A bandeira da minha geração
E lembra meu canto a te chamar
E o mundo a chorar, saudades de ti

Não sei onde estás pra me dar a mão
Não sei onde estás pra me dar a mão.

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